terça-feira, 3 de julho de 2012

A criança confia no adulto...

A maior tragédia dessa história é que as crianças confiam nos adultos. Confiam como uma bússola ou um oráculo. Agarram-se a seus atos e palavras como uma bóia no oceano ameaçador de uma vida a qual recém foram apresentadas.
A menina confia no pai quando ele diz que vai “chupar” seus seios que ela nem tem porque a ama.
Confia no pai também quando afirma que vai matar toda a família se contar para alguém sobre o “carinho” que recebe.
Confia na mãe quando é chamada por ela de vagabunda e quando a mãe garante que ela será um nada na vida.
Confia no padrasto quando ele apaga um cigarro em seu corpo porque foi um menino muito mau e quando ele bate sua cabeça na parede porque não suporta o choro de dor.
As crianças confiam nos adultos quando eles as espancam, as violam, as torturam e as matam.
Confia na professora quando sussurra que não quebrou a perna caindo da arvore como sua família contou ou que aquela mancha roxa na bochecha não foi resultado do soco de um colega.
Morre um pouco mais quando a professora diz que isso não passa de história de criança mal-educada.
Confia no conselheiro tutelar quando conta que vende o corpo na rua porque já foi violada em casa.
E confia nele também quando afirma que se não levar dinheiro para o casebre onde mora, vai apanhar a relho.
E morre um pouco mais quando o tudo que o conselheiro pode lhe oferecer é uma vaga numa instituição onde sabe que vai ser currado pelos mais velhos.
Confia no médico e na enfermeira, a quem abre as chagas do seu corpo, a custo sem medidas.
Confia no assistente social e no psicólogo, a quem escancara o coração até então encarcerado pelas chaves do silencio.
E morre um pouco mais quando o “sigilo ético” é usado como explicação para o zeloso profissional não levar o caso adiante.
Confia no juiz quando pede que limpe a cera do preconceito e a escute.
Confia no juiz também quando implora que preste atenção em evidências invisíveis, mas que sangrem, do que no laudo inconclusivo e estéril do departamento médico legal.
E morre em definitivo quando o senhor a quem pertence seu destino sentencia que não há provas materiais para condenar seu violador.
Ou que apesar de seus doze anos, era bem resolvida e esperta para seduzir seu estuprador.
OU PASSAMOS A MERECER A CONFIANÇA DA CRIANÇA QUE NOS ESTENDE A MÃO, OU A TRAGÉDIA É TUDO QUE NOS RESTARÁ.
Autor desconhecido

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