quarta-feira, 26 de maio de 2021

 


"Vou escrever nas ondas. Nos céus. No meu coração. Você nunca vai ver, mas vai saber. Eu serei todos os poetas, vou matar todos eles e tomar seus lugares um a um, e a toda vez que o amor for escrito, em todos os filamentos, será para você."

 

 Orvalho da minha manhã, gota de chuva do meu deserto, estrela cadente do meu céu,

Esta não é só mais uma carta de amor. É uma espécie de testamento. Um registro eloquente para que todas as próximas gerações possam acreditar que histórias bonitas ainda existem, e que a felicidade é algo simples e palpável, se você souber como olhar, sentir, tocar...

Quero que todos saibam que te amar me tornou mais forte, mais sábia, mais resiliente, e mais livre. Sim, mais livre, porque liberdade nada tem a ver com o estado civil. É um estado de espírito. E amar você me libertou. Das certezas vagas sobre as relações humanas que eu julgava ter. Daquela empáfia irritante de uma adolescente tola que acreditava ser ampla conhecedora da vida e do mundo. Daquela necessidade de ser sempre suficiente, da mania de ser moldada pelas expectativas dos outros, de estar invariavelmente certa. Me libertou de todas essas amarras para que eu pudesse viver cada segundo desse nós intenso, brilhante, florescente. Amar você me fez melhor. 

Amar você é como aquela sensação boa do cheirinho de café coado se espalhando pela casa de manhãzinha, é como o sabor que abraça de um bolo quentinho saindo do forno, é como o afago na alma que barulho de chuva transmite, e como a paz serena daquele momento quando meditamos e nossa mente não se prende à nada. Amar você é não esperar mais nada da vida, sabendo que o melhor já veio e foi você, e ao mesmo tempo esperar tudo, querer viver, conhecer, sentir, me desfazer e refazer sob teus dedos, chorar de alegria em cada pequena declaração de amor cotidiana, ser boba e clichê como os apaixonados fazem nos romances mais bregas.

 Esta não é uma simples carta de amor. É uma confissão:

Eu quero viver mais mil vidas com você. Quero redescobrir caminhos entre tuas curvas, colecionar teus sorrisos de lado, e a visão cor de mel dos teus olhos naquelas tardes de sol, acumular milhões das tuas gargalhadas altas, autênticas e sinceras que me fazem rir automaticamente. Quero contar estrelas no céu, observar planetas e duvidar se o brilho é de um satélite ou OVNI, em noites quentes de verão, e achar graça da fumaça que teu respirar cria nas madrugadas frias de inverno. Quero amortecer meu braço mais milhões de vezes para que você fique só mais um pouquinho deitada em meu colo, quero construir sonhos e projetos contigo e acreditar em cada um deles, e comemorar profundamente toda vez que eles forem concretizados. Quero me preocupar se você está bem agasalhada nos dias frios, esperar ansiosamente o momento em que chegará em casa para me aninhar no teu abraço que é a casa mais certa que já tive em toda a vida. Quero mais desse amor tranquilo, profundo, sereno, contínuo e com gosto daquele chocolate quente com notas cítricas que você tanto ama. 

Achei que voltar aqui, tanto tempo depois, neste lugar que é templo dos primórdios do nosso relacionamento, de quando eu tentava explicar tudo com palavras, e não entendia que elas nunca são absolutas e capazes de traduzir sentimentos e emoções, seria uma forma de homenagear nossa história até aqui. 

Eu avisei, que esta não é só mais uma carta de amor. É um buquê de clichês, que eu te ofereço. Cuide bem dele. Regue, cultive as flores, guarde as sementes e plante os caules que restarem. Ele renascerá e viverá pelo vasto infinito, que é o meu amor por você.

Feliz 10 anos!

Sua, B.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016



"... De fato, no planeta do pequeno príncipe havia, como em todos os outros planetas, ervas boas e más. Consequentemente, sementes boas, de ervas boas; e sementes más, de ervas más. Mas as sementes são invisíveis. Elas dormem nas entranhas da terra até que uma cisme de despertar.


A gente pensa que se conhece. Passa uma vida acreditando saber absolutamente sobre nossas pausas, os recuos, a intensidade do passo e o ritmo da caminhada. Confiamos, veementemente, que nada será capaz de abalar as bases profundas que criamos acerca de nossos princípios e nossas crenças, sobretudo os ideias que julgamos eternos e irrefutáveis. Teimamos cotidianamente em manter o rumo traçado, o plano que pensamos infalível, o mapa traçado com base em muitas fórmulas, contas e razões trigonométricas.
Tudo em vão. Tantas verdades firmadas em solo movediço. Bases frágeis.
A medida que o tempo passa e a gente vai crescendo, aprendemos a conhecer nossa essência. Passamos a ignorar os mapas, rejeitar as placas que indicam o caminho mais fácil. Finalmente aprendemos que mais da metade das certezas que tivemos na vida, foram criadas pelos outros, influenciadas pelo meio, inventadas, imitadas, foram apenas fraudes, farsas... tão vulneráveis. Passamos a criar nossas verdades sobre solo mais firme: nosso coração. Conseguimos então entender que razão e coração possuem íntima relação quando nos tornamos capazes de agir e pensar de acordo com aquilo que somos realmente. Aquilo que compõe nossa essência. Muito distante da aparência insolúvel que criamos um dia para disfarçar nossos tantos defeitos, os cruéis mas necessários abismos, as barreiras e as limitações de nossa alma. E pouco a pouco, no abstrato que inventamos, nos muitos que somos e ainda seremos, nas tantas historias que vivemos e ainda temos a viver, vamos aprendendo a cuidar daquilo que é verdadeiro, a deixar florescer na alma todos os sentimentos bons e duradouros, a enfrentar as perdas como passos necessários para nossa evolução, a estender a mão sem exigir recompensas ou gratidão, a viver de sonhos mesmo com os pés firmes na realidade, e acima de tudo, a acreditar que tudo que acontece tem uma razão, um porquê,  e como bem diria Caio F. A., mesmo que as vezes nossa frágil consciência humana teime em dizer o contrário: o que tem de ser tem muita força.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Mais sobre o amor... (do baú)


Dizem que só amamos uma vez na vida.
Por algum tempo achei-me no direito de questionar esse velho ditado. Considerei possível amarmos diversas vezes ao longo da vida. embasada na ideia revolucionária de que somos donos de nossas vontades e nossos sentimentos e acima de tudo: capazes de selecionar amores, dominar paixões, moldar carinhos e determinar afetos. 
Tempo perdido em vão.
Porque chegou um momento em que constatei o óbvio: existem sentimentos que são tão fortes, puros e verdadeiros, que embora conheçamos milhares de paixões e atrações ao longo de nossa breve existência, nada será capaz de se comparar àquilo que sentimos no tal do: único amor da vida!
Claro que a vida mesmo breve, é cheia de entrelinhas, páginas, notas de rodapé e diversas interpretações. É fato que vamos conhecer muita gente, beijar muitas bocas, sentir variados e múltiplos prazeres. Mas permaneceremos sendo reféns daquele único amor, aquela certeza maior que o mundo. Aquela palpitação que nos faria ser capazes de enfrentar dilúvios, tsunamis e furacões. Aquele nó na garganta. A falta de ar. A tontura só em sentir o perfume, o gosto, o toque. A total entrega, a incontrolável atração. A inevitável aproximação. A ausência de pudores, receios ou dúvidas. 
Mesmo que não permaneça para sempre em nossos dias, continua eternamente e de forma irreparável, com sinalizadores fluorescentes, em nosso coração. Segue ocupando aquele espaço único e intransferível. Ainda que os destinos se separem, as vidas se desentrelacem, os rumos se partam. 
Só amamos assim, só somos do outro de forma tão intensa e verdadeira uma vez na vida. O resto são fugas, formadas por almas idênticas que necessitam de apoio mútuo ao mesmo tempo. São passagens. Travessias. Não são continuação. 
Com o passar do tempo, dos dias de chuva, das noites de lua cheia... vamos percebendo que somos capazes de preencher nossa vida cotidiana com emoções banais e momentâneas, com doses das bebidas mais fortes, adrenalina, e uma gama infinita de opções fúteis e perecíveis. Mas sempre, e digo sempre, saberemos em quais locais permanecem as fissuras. Os buracos. As faltas que mais doem. São esses os pontos críticos. As "minas-terrestres". Os suicídios recorrentes. 
Resta a velha máxima: Algumas pessoas estão destinadas a se apaixonar, mas não necessariamente a ficarem juntas. Um pode seguir o resto dos dias nutrindo de forma lenta e silenciosa aquele sentimento, enquanto o outro segue por caminhos livres e desconhecidos. Afinal bem sabemos que o amor é uma estrada solitária, que trilhamos sozinhos, mesmo que em alguns trechos estejamos acompanhados: a essência da jornada é um íntimo e profundo encontro com nós mesmos (autor aleatório).  
Mas seguimos com a velha esperança de que se for nosso, um dia, leve como uma brisa, retornará, como tudo aquilo que verdadeiramente nos pertenceu.

segunda-feira, 23 de março de 2015

O verão vira outono, março vira abril, lua nova vira crescente e depois cheia e mingua e é nova de novo, o tempo passa e tudo se transforma. O que ontem era repleto de flores e vida amanhã começa a desmontar-se lentamente. As folhas caem, a paisagem muda, talvez pareça mais nebulosa, introspectiva. Precisará de um tempo para voltar a brilhar. A enfeitar os dias.
A gente também é assim... Tem fases de primavera... e períodos de inverno. Acredito que o bom da vida seja aprender que ambos são necessários. Saber ser triste de vez em quando. Admitir não estar sempre com um sorriso na cara demonstrando uma felicidade vendida em propagandas de pasta de dente, em capas de revista, no perfil do facebook. E mais importante ainda: perceber quem permanece quando nem tudo está bem, quando você não está pra balada, pra farra ou pra badalação. Quando seu humor não está dos melhores... Houve quem disse que "é fácil amar o outro na mesa de bar" É fácil ser amigo quando as coisas estão todas no seu devido lugar. Mas é difícil manter-se ao lado no meio do furacão.
Tenho passado por uma fase meio difícil... Os que estão perto sabem porque. E, infelizmente, posso contar nos dedos as pessoas que se preocuparam em me pedir como estou, oferecer ajuda, nem que seja um abraço, uma conversa, um "tudo vai ficar bem". No começo fiquei triste por ver tantas pessoas que julgava "pra sempre" ignorarem completamente o fato de eu também ser de carne e osso, de não ser  sempre a muralha... Acredito que triste não seja a palavra certa. Quem sabe, decepcionada. Mas como decepção tem muito mais a ver com a expectativa que nós atribuímos ao outro, volto a olhar para dentro de mim e então noto que essas fases são necessárias. E mais que isso: fundamentais. Houve os que foram, que passaram. Mas ah, como o destino é bom, trouxe outros que se importaram, que ajudaram a segurar a barra, com uma flor ou uma carta, com um sorriro ou um abraço, me fizeram acreditar que isso também há de passar. Há que se aprender a deixar o passado ir. Há que se manter o sonho vivo e a esperança aquecida. Há que se perder algumas folhas no outono para poder voltar a florir na primavera.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Sobre o amor...

Que eu me lembre nunca tive medo de que desse errado. A questão nunca foi essa. Não sentia receio de quebrar a cara, me decepcionar e ficar em pedaços por causa disso. Afinal, tenho consciência de que essa é uma das consequências de quem escolhe sentir, de quem aceita se entregar.
Essa sempre foi a questão, o ponto crítico. O medo sempre foi perder o controle. Perder essa mania de fazer tudo do meu jeito, mesmo que, geralmente, seja o jeito errado. Perder o privilégio de ser livre. Sim, porque eu acreditava que a liberdade só era possível quando caminhamos sós. Sabia que, quando sozinha, apenas a mim cabiam as consequências de minhas escolhas. Era eu quem passaria pelo crivo por causa dos caminhos errados, dos trajetos mal calculados...
Na realidade acho que o grande medo sempre foi admitir que sentia medo. Sempre foi expor ao outro que eu também tinha momentos de fragilidade. Que a muralha sempre imponente, sempre impenetrável, sempre inabalável, possuía sérias fissuras.
Mas hoje, quando me vejo chorando muito mais vezes do que o normal, soluçando pela dor física que às vezes parece maior que eu mesma, e do meu lado está você, enxugando cada lágrima, aguentando meu mau humor e relevando minha impaciência, vejo que não preciso ser sempre forte.
Eu nunca sonhei com um amor. Nunca fui esse tipo de garota que fantasia sentimentos, e planeja os mínimos detalhes da relação ideal. Mas acho que mesmo que eu tivesse sonhado e esperado um amor ele não seria tão completo e tão perfeito quanto o que construímos. E digo construímos porque no início, a gente sabe, não passava de uma paixão... aquele tipo de sentimento arrebatador, porém frágil. Foi só o tempo que permitiu que criássemos laços tão lindos e encantadores quanto os que temos hoje em dia.
Ouvi agora aqui na TV “desde que comecei a pegar na mão dela, nunca mais parei”. E sim... começamos pelo entrelaçar dos dedos, a moda antiga. Não foi o toque, o desejo, o sexo que nos aproximou. E sim a segurança. A certeza de ter alguém para segurar nossa mão caso a gente tropeçasse. Alguém para nos segurar no colo enquanto nossos pés calejados estão impossibilitados de caminhar. Alguém que sonhe nossos sonhos e nos proteja de nossos piores medos. Alguém que nos ame, sobretudo em nossos defeitos.
Depois de tanto tempo... De tantas idas e vindas... A única certeza que tenho na vida é de que somos muito melhores juntas. Isso a gente prova diariamente. Quando você me convence a não ir. A não abandonar o nosso nós.
Quando olho pra você vejo o quanto mudamos, o quanto nos transformamos. E te vendo eu me vejo. Minha vida sendo construída. Nossa vida sendo construída.


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Sobre cativar...


Estranho perceber como podemos tocar e transformar a vida das pessoas sem nem perceber.
Me dei conta disso num desses dias, em que fui convocada as pressas para um encontro de antigos colegas de trabalho.
Ver o carinho que ainda sentem por mim e a maneira doce e terna com a qual se recordam de tudo que compartilharmos.
É engraçado, mas, via de regra, vivemos uma vida baseada em buscar o sucesso. Sucesso na profissão, na vida pessoal... Queremos nos destacar. Objetivamos fazer com que todos se lembrem de nossos grandes feitos. É engraçado porque não percebemos que é no mais singelo gesto que conquistamos para sempre o coração das pessoas.
E, acredite, ato nenhum pode ser mais grandioso do que conquistar o outro verdadeiramente.
Sim, porque vivemos tempos em que as pessoas se esforçam para impressionar, para provar que são felizes nas fotos do instagram ou nas publicações do facebook.
Tudo é medido pela quantidade de likes que você é capaz de produzir.
As pessoas passaram a medir suas palavras, falar o que não pensam no intuito de não causar uma má impressão.
Tudo é pré-fabricado, pré-moldado, pré-instituído por uma sociedade que sabe, ou julga saber, o que é certo e o que é errado, o que faz bem e o que não faz, o que é normal e o que é não é. E dessa forma, também acredita saber mensurar a dignidade das pessoas. A felicidade. O sonho. A esperança. E nos dias que passam, vamos sendo sugados por esse gigante aspirador chamado status quo, ou se você preferir, mais do mesmo. Nossas concepções, nossos ideais... tudo vai sendo minimizado, até se tornar uma reles poeira imperceptível nas prateleiras de nossa alma.
Não sei se a gente envelhece ou se é obrigado a amadurecer diante de todas as pedras que vão surgindo pelo caminho.
Não sei se o sonho diminui ou é a gente que tenta esconde-lo por detrás de diversas cortinas de rotina, cotidiano.
No meio desse turbilhão diário de desencontros e complicações, é necessário refletir sobre o peso intrínseco ao fato de conquistarmos o outro.
Como já diria nosso Pequeno e adorável Príncipe "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Grandes sentimentos trazem na bagagem grandes responsabilidades. E há que ser forte para aguentar o tranco. Ao conquistar o outro comprometemos uma parte de nós na empreitada. Colocamos muito do que temos, do que somos, nas relações que construímos. E muitas vezes apostamos todas as nossas fichas na jogada errada.
É por isso que precisamos de toda a humanidade possível para compreender que ao cativarmos o outro também estamos lidando com toda a expectativa que essa conquista gerou. O outro espera de nós. Muitas vezes, o egoísmo nato de nossa espécie, faz com que pensemos apenas no nosso sentimento. Naquilo que nós esperamos. Sem pensar no que outro tem condição de nos dar. A gente dá o que tem, naquele momento. Isso vale para amores, amizades, paixões e afins.
Ms você deve estar aí me xingando em pensamento, afirmando que não temos como impedir que os outros se aproximem, se apaixonem, se encantem por nós. Não, não temos. Mas não é disso que estou falando. Estou falando da obrigação de merecer o amor daqueles que nos confiaram tudo o que tem. Mesmo nas nossas imperfeições. Mesmo com todos os defeitos, os recuos, as pausas e as confusões.
É necessário continuar. Permanecer. É assim que provamos ao outro que não importa quantos desafios surjam pelo caminho. A gente vai estar de mãos dadas para atravessar.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014



"Um rei me disse que quem deixa ir tem pra sempre." 

A vida é feita de ciclos. Essa frase parece tão clichê, que muitos deixam de perceber a tamanha verdade que ela imprime. Desde sempre e para sempre vivemos iniciando e encerrando ciclos. Da primavera ao outono, de janeiro a fevereiro, de segunda a domingo. Num vai e vem de dias, horas e momentos que podem ser vividos de forma a serem desperdiçados ou eternizados, dependendo da importância que você dá a eles. Dependendo de quem você escolhe para compartilhá-los com você.
Sim, porque é fato que em cada ciclo pessoas diferentes chegarão, a medida que outras partem. Você é quem deve escolher se gastará seu tempo lamentando os que foram, ou aproveitando as trocas que os novos querem lhe proporcionar.
Hoje acordei e a chuva me fez parar para olhar pela janela. Há tanto tempo eu não fazia isso. Percebi que a paisagem mudou consideravelmente. Talvez porque meu olhar também tenha mudado. Por instinto, reflexo das tantas vezes que fiz isso em dias de chuva de minha adolescência, resolvi abrir velhas caixas e gavetas. Ali encontrei partes de mim espalhadas entre fotos, cartas, desenhos, bilhetes, embrulhos de presente e embalagens de bombom. Tantas lembranças que me constituem. Convites de festas de 15 anos já amarelados, formaturas de ensino médio, formaturas de ensino superior, chás de panela, casamentos, chás de fralda... E percebi que, como diria HG "o tempo passou, claro que passaria". Quantos ciclos se encerraram. Mas quantos eu efetivamente deixei para trás? Quantas pessoas foram se perdendo nas tantas esquinas, nas voltas que o mundo dá. Mas quantas delas eu mantive aqui dentro na ingênua esperança de um dia recuperar a exatidão do sentimento que compartilhamos?
Juntei algumas coisas e joguei no lixo. Não por não compreender, ou tampouco, não respeitar a importância que cada um desses objetos e respectivos sentimentos representam na minha historia de vida. São partes de um quebra-cabeça que se torna incompleto sem as peças do ontem. No entanto, percebo que para que elas existam não é necessário serem vividas nostalgicamente no hoje. Isso faz mal, nos mantém presos ao que pertece ao passado, e que, com certeza, possui alguma razão para não fazer parte do presente. É necessário encerrar ciclos. Mas encerrar de verdade. Não apenas guardar dentro de uma gaveta e fingir que passou. É necessário mexer na ferida, ressuscitar velhos fantasmas, enfretar antigos dilemas. Aí sim será possível se livrar daqueles frascos de perfume que você guarda para lembrar de uma antiga paixão. Aquela roupa que já não serve, mas que você insiste em acreditar que um dia ainda usará. Quem deixa ir, tem para sempre. 
O quebra-cabeça ficará completo cada vez que lembrarmos com carinho dos bons momentos que tivemos, e para isso não precisamos de antigos bilhetes e declarações. Não precisamos deixá-los acumulando o pó da mágoa ou o mofo da decepção. Quando lembrados, não fisicamente, carregarão apenas aquilo que foi bom. 
A alma trata de fazer eterno tudo aquilo que se amou. 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Um porto onde escolhi ancorar!


Engraçado e encantador como uma relação pode se tornar inspiradora. Como, com o tempo, a gente passa a admirar cada um dos defeitos do outro, tanto que são eles que se tornam os encantos que, quando tudo vai mal, fazem lembrar de todos os motivos que um dia fizeram a gente se apaixonar.
É incrível como a gente absorve os gostos do outro. Percebo isso quando vejo seus olhos brilhando com a chegada dos 50 novos livros que encomendamos, mesmo tendo mais 50 na estante esperando para serem lidos. Ou quando você fala com tanta animação das histórias que leu, depois que me conheceu. Percebo isso também quando vejo que passei a amar cinema, comer a pipoca extremamente doce e tomar refrigerante naqueles copos absurdamente irritantes... até me vejo acompanhando histórias de super-heróis, e sabendo mais que você sobre as cenas do último filme em cartaz.
Observo que aqueles jogos de vídeo-game, antes considerados inúteis e supérfluos, hoje são aceitáveis, e que até sou capaz de ganhar de 4x1 de ti no FIFA. Quando ouço palavras como "equidade", "negligência" sendo adicionadas ao seu vocabulário diário, ou mesmo quando utiliza a palavra "hierarquia" para explicar um jogo de cartas.
Sim, você me inspira. A cada dia tenho certeza de que nosso amor é tão forte porque foi construído sobre as bases dos princípios mais importantes de uma verdadeira amizade: a cumplicidade, a troca e o compartilhar. Conviver contigo é tão leve e natural, te amar é fácil. E sim, cansei das complicações. Um amor para ser de verdade não precisa de idas e vindas (mesmo que já tenhamos passado por tantas delas), não necessita de emoções contraditórias e explosões de ciúmes. Precisa sim daquelas briguinhas bobas no meio do mercado, daquelas discussões inúteis sobre pequenas convicções pessoais e imutáveis . Precisa do avesso. Do contrário. Mas não precisa causar tempestades e catástrofes por causa disso. Necessita respeitar o limite da tolerância. Exige compreensão do limite do outro. Do nosso próprio limite. Por isso que te amar é tão simples. É apenas perceber que tua alma é formada por sinceridade. Ela é um mar de tranquilidade e entrega. Brilha feito uma constelação de sentimentos puros e intensos, que completam o mundo ao teu redor. 
Vejo tanta verdade em nós. Em você. O fato de seu olho nunca estar aberto quando me beija, o modo como se entrega para mim. A forma como faz parecer que o restante la fora não existe, ao prestar atenção em cada palavra que digo, em cada historia irritante, longa e tediosa que conto. Ao valorizar e admirar meu trabalho, minha historia e os tantos calos que coleciono até aqui, incentivar meus sonhos e sonhá-los comigo.
O complexo não me encanta mais. O mundo lá fora parece até um lugar bom. Porque você trouxe paz ao meu coração tão inquieto. Você completou meus dias com felicidade. E agora é simples, seus braços se tornaram um porto em que não me importei em ancorar. Que seja como naquela velha e tão contestada canção "joque suas mãos para o céu, e agradeça se acaso tiver, alguém que você gostaria que, estivesse sempre com você, na rua na chuva na fazenda, ou numa casinha de sapê". Nunca cogitei criar raízes, mas no seu abraço escolhi morar. 

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Sobre o eu e o nós...



"Talvez porque o meu mundo seja uma esfera que não cabe na órbita alheia, que se anda só" (Samara Bassi). 
Por um bom tempo achei que esse tipo de frase resumisse precisamente a complexidade das relações afetivas em que teimamos em nos envolver ao longo da vida. Acreditei veementemente que, mesmo estando cotidianamente cercados de pessoas, o caminho precisava ser trilhado só. Pensei, ingenuamente, que era impossível dividir estradas, sem abrir mão do que me era mais precioso: a liberdade. E por essa liberdade achava justo me fechar em meu casulo e permitir que os outros se aproximassem limitadamente, até onde fosse seguro, até onde não fossem capazes de me tocar verdadeiramente. 
Não que eu não me entregasse aos sentimentos de amor e amizade, mas essa entrega era invariavelmente limitada pela barreira do "não abrir mão do que me faz livre".
E nessa teimosa arrogância tola acabei perdendo, irremediavelmente, pessoas que quiseram dividir o trajeto comigo, mas foram rejeitados, expulsos.
Hoje, com os diversos calos que as pedras no caminho fizeram em mim, acabei aprendendo uma simples e absoluta verdade: ser livre é escolher a quem pertencer. 
Percebi que não há como passar a vida toda fugindo do inevitável: é necessário, sim, permitir que o outro nos acompanhe em nossa trajetória. Afinal, de que adianta ser livre para encontrar as mais lindas paisagens, se ninguém estiver ao nosso lado para apreciar a vista, tirar uma foto bonita. De que adianta o sucesso, as conquistas diárias, se não existir quem vá nos abraçar e compartilhar conosco da alegria doce que é o dizer: eu consegui. É fato que cada um trilha o seu caminho só. Precisa encarar os obstáculos e desafios que surgirem, necessita encontrar forças para criar sua personalidade, 
Entretanto, é absolutamente importante que sejamos humildes a ponto de admitir a necessidade de compartilhar. E assim, a verdadeira liberdade residirá em sermos capazes de escolher a quem pertencer. Distinguir os que estão ao nosso lado apenas para atrasar o passo, interceptar a estrada, buscar atalhos errados, ou os que são importantes guias em determinados trechos de muita incongruência, mas que se afastarão tão logo o equilíbrio seja restabelecido. E acima de tudo: aqueles que serão nossos verdadeiros companheiros nessa viagem. Aqueles que saberão acompanhar nosso ritmo, entenderão os recuos, as pausas desnecessárias, a pressa sem motivo, as curvas perigosas em alta velocidade. Os que saberão dividir cada metro da estrada de forma plena. Que sorrirão e assim expulsarão todas as nuvens e tempestades. Os verdadeiros, aos quais não nos importamos em pertencer. Que reste a máxima: não quero a liberdade se estiver sozinho para voar. 

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Malas e recordações.

Hora de fazer as malas. Mas além dos habituais livros, roupas, fotos, perfumes e demais objetos que me definem, essa foi a hora de colocar na bagagem um bocado de recordações. Hora de mudar de casa, mas, mais que isso, mudar de fase.
Fecho a mala, olho ao redor e um filme incrível passa diante dos meus olhos. Para alguns pode significar apenas uma mudança, algo banal e corriqueiro. Algo até mesmo necessário. Mas nesse caso, significa deixar para trás uma época de muitas transformações, enormes desafios, vivências intensas e de aprendizado imensurável. Três anos em que, se não fui feliz em todos os momentos, sem dúvidas vivi instantes que valeram por todas as lágrimas derramadas, as decepções acumuladas e as mágoas amargas que, graças a Deus, ficaram no passado. 
Deixar de viver em um lugar que tem muito de mim em cada parede, cada cômodo, cada objeto. Tem muito de mim porque muitas historias ali foram construídas, outras rompidas de forma irremediável. Tantas pessoas entraram e saíram da minha vida assim como entravam e saiam diariamente por aquela porta com o "102" gravado. Tanta gente que trouxe novas experiências, trocas ricas em humanidade. Que me fizeram olhar para dentro de mim e encontrar coisas que nem eu mesma imaginava sentir. Gente que me amou, me odiou, me irritou, me encantou, me magoou, me fez feliz. Gente que ficou ao meu lado nas noites gélidas de julho ou nas tardes abafadas de janeiro. Gente que bebeu comigo nas tantas sextas-feiras de festas ou roda de violão. Gente que rachou o dinheiro pro almoço, que me ajudou a limpar a bagunça depois dos porres alheios (e próprios) da noite anterior. Gente que ganhou de mim no uno, ou passou embaixo da mesa depois dos 12x0 no truco. Gente que foi pro cantinho da disciplina, que virou noites trocando confidências, vendo filme de terror ou lendo ao meu lado. Gente que dançou funk na sala enquanto havia eletrônico tocando na cozinha, ou sertanejo no quarto ao som do pagode da área de fumantes. Gente que brincou de imagem e ação e drink game. Gente que tomou minha caipira de limão, laranja, maçã, kiwi, manga, maracujá e/ou o q tivesse. Gente que me abraçou tão forte que fez o mundo desaparecer. Gente que enxugou minhas lágrimas e me protegeu. Gente que apontou meus erros, com carinho, para que eu tentasse mudar para melhor. Gente que viu a pior parte de mim, e ainda assim, permaneceu ao meu lado. Gente que viu a melhor parte de mim, e ainda assim, escolheu partir. Gente que conheceu meu gênio terrível, minha mal-criação e minha sinceridade sem medida. Gente que foi porto-seguro, ou foi trem passageiro,  gente que se tornou afeto eterno. Gente que fez de mim melhor a cada dia, e que formou muito do que sou hoje. Gente que me fez aprender que cada um dá o que tem, que toda ação tem uma reação e que o bem que fizemos, acaba voltando de alguma forma, pela ordem do universo. Gente que me ensinou a amar de uma forma mais livre, ou melhor, me ensinou a deixar o outro ser o que é, lhe dando a liberdade para partir ou ficar. Fecho a mala com toda essa gente dentro dela, e ainda assim, seu peso é quase imperceptível, já que restaram laços decorados, que continuam enfeitando minha vida.
É difícil partir, mas é impossível ficar. É hora de buscar novas experiências, deixar um pouco de mim em outras paredes, observar novas vistas da janela. Momento de iniciar uma fase, que só é possível graças a anterior, e que com certeza será mais completa devido a tanta gente da qual depende a minha vida, já que sou feita de relações, e movida pelas emoções que elas transmitem. E sim, "abençoadas sejam as dádivas que vêm nos lembrar, com alívio, que há lugares de descanso para os nossos cansaços. Que há lugares de afrouxamento para os nossos apertos. Que dá pra mudar o foco. Que não é tão complicado assim saborear a graça possível que mora em cada instante. Abençoadas sejam as dádivas generosas que nos surpreendem. Elas não sabem o quanto às vezes, tantas vezes, nos salvam de nós mesmos.”