domingo, 19 de junho de 2011

AMAR É PUNK


Eu já passei da idade de ter um tipo físico de homem ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse estranho (bem estranho). Tivesse um figurino perturbado. Gostasse de rock mais que tudo. Tivesse no mínimo um piercing (e uma tatuagem gigante). Soubesse tocar algum instrumento. E usasse All Star.


Uma coisa meio Dave Grohl.


Hoje em dia eu continuo insistindo no quesito All Star e rock´n roll, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de acreditar em “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece o cara. Começa, aos poucos, a admirá-lo. A achá-lo FODA. E, quando vê, você tá fazendo coraçãozinho com a mão igual uma pangaré. (E escrevendo textos no blog para que ele entenda uma coisa: dessa vez, meu caro, é DIFERENTE).


Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ele vai esquecer todo mês o aniversário de namoro, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu pão-de-sal bem branco (e com muito queijo). Ele não vai fazer declarações românticas e jantares à luz de vela, mas vai saber que você está de TPM no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez.


Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. DA PAIXÃO, NÃO. Depois de anos escrevendo sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. EU QUERO ALGUÉM QUE DIVIDA O CHÃO COMIGO. QUERO ALGUÉM QUE ME TRAGA FÔLEGO. Entenderam? Quero dormir abraçada sem susto. Quero acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas.


Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e meus futuros livros iriam pra seção B da auto-ajuda, com um monte de margaridinhas na capa. Mas, CARAMBA! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, no meu caso, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesma que não tinha acontecido.


Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrões. Amor é RECONSTRUÇÃO.É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios.


Demorei anos pra concordar com meu querido (e sempre citado) Cazuza: “eu quero um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”. Antes, ao ouvir essa música, eu sempre pensava (e não dizia): porra, que tédio!


Ah, Cazuza! Ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar - ah, o amor! - AMAR É PUNK.

Fernanda Mello
Os Estatutos do Homem
Thiago de Mello


Artigo I.

Fica decretado que agora vale a verdade.
Agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.


Artigo II.

Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo


Artigo III.

Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis
em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,


abertas para o verde onde cresce a esperança.


Artigo IV.

Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.


Parágrafo único:

O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.


Artigo V.
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.


Artigo VI.

Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo



gosto de aurora.


Artigo VII.

Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.


Artigo VIII.

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água

que dá à planta o milagre da flor.


Artigo IX.

Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.


Artigo X.

Fica permitido a qualquer  pessoa,
qualquer hora da vida,

uso do traje branco. 


Artigo XI.

Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.


Artigo XII.

Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido, tudo será permitido,

inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa

begônia na lapela.


Parágrafo único:

Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.


Artigo XIII.

Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,

o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa

do dia que chegou.


Artigo Final.

Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem. 

sexta-feira, 3 de junho de 2011



Hoje acordei com uma energia boa. E olha que o dia tinha tudo pra ser um grande desastre. Amanheceu feio, tímido, chorando. Vejo um lado bonito na chuva, me traz uma melancolia boa, uma vontade de pensar sobre as coisas, uma vontade de fazer mais por mim, por você, por todo mundo.


Nossas escolhas estão bem aqui, no coração. Não pense que está no colo de um, na mão de outro. Não se adie, por favor. E não se entregue. Aconteça o que acontecer: não se entregue. Não mude seu jeito por ninguém. Mude suas caras, bocas e trejeitos se quiser. A gente é o que é e quem não gosta, paciência. Não se traia, não se mude, não se mova. Seja você.


Tenho gostado tanto de mim. Mesmo com minhas estranhezas e incertezas. Parece papo de louco, eu sei. Mas você sabe? Sabe que existem muito mais coisas do que a gente pode ver, crer, tocar, sentir? 

Quanto mais o tempo passa mais percebo que somos pequenos. Tão pouco. Temos tanto o que aprender, o que conhecer. E ao mesmo tempo ficamos estagnados, petrificados. O mundo não para de rodar, nos obriga a decidir, a partir, a ficar, a voltar. E ninguém pergunta o que você quer, como você se sente, o que pretende, o que sonha, se está feliz, satisfeito, se existe algum jeito. E tem. Tem muitos jeitos. Tem o seu jeito. E pra tudo tem remédio, saída, solução.


Reflita. Se perceba. Se decida. E procure ser feliz hoje. Buscar você mesmo em algum canto. E abraçar, beijar, seguir em frente sem olhar o que ficou.

CLARISSA CORRÊA

Não gosto de cara feia. De verdade. Se você tem algum problema comigo é só dizer. Me chama pra conversar e a gente fala sobre isso. O que não suporto é gente carregada, com humor azedo, cara de bunda e que está sempre suspirando, relinchando, como se a vida fosse um fardo, como se carregasse o mundo nas costas. Não tenho paciência pra esse tipo de gente.

Se meu humor não está dos melhores simplesmente me calo. Não fico de zuzuzu, reclamando das coisas. Fico quieta, fico na minha, fico pra dentro. Acho a maior chatice do universo gente que mistura vida pessoal e profissional, gente que não sabe dar a volta por cima e rir das coisas.

Acumular mágoa dá câncer. E eu adoro a vida, por isso tento me livrar dessas cargas ruins. É claro que nem sempre consigo, é claro que reclamo, é claro que xingo, grito, berro, esperneio, bato o pé, faço birra, me revolto, me rebelo e sou ranzinza. Mas reclamo tudo que dá e depois me limpo. Viro outra, fico nova. Tenho essa capacidade de renovação grande - e me orgulho disso. Odeio juntar tristeza dentro da bolsa.

Na TPM sou o inferno em forma de gente. Brigo por tudo, encasqueto com tudo, sou chata por tudo, faço cena por tudo, tudo é um grande drama e minha vida vira um palco de peça de teatro cafona. Mas depois passa, acho graça, me desculpo e reconheço: foi mal, eu estava na TPM. E isso não é bobagem, não. É caso sério, de polícia, mexe com a gente, bagunça todos os hormônios e neurônios. Por isso me perdoo.

Sou cri cri com algumas coisas. Uma delas é: não tenho nada a ver com seus problemas. Então, seja coerente e não descarregue em mim. Sério, não vem pra cá me dar patada, não senta aqui com essa cara de coitada, não faz assim que não é legal. As pessoas perderam o respeito umas pelas outras. Ninguém tem culpa dos seus problemas. Eu tenho os meus, você tem os seus. E pronto. E ponto. Não vem fazer a pobrezinha que não cola.

Todo mundo tem atrito no trabalho, confusão em casa, stress no relacionamento. É normal, é humano, é natural. E assim a gente segue. O que importa não são as melecas que acontecem na nossa vida, mas a forma como a gente se comporta quando elas acontecem. Não dá pra sair distribuindo pontapés no universo. Tem que parar, pensar, tomar um ar e decidir continuar. Senão nem tem graça ter nascido gente.

CLARISSA CORRÊA