quarta-feira, 22 de julho de 2015

Mais sobre o amor... (do baú)


Dizem que só amamos uma vez na vida.
Por algum tempo achei-me no direito de questionar esse velho ditado. Considerei possível amarmos diversas vezes ao longo da vida. embasada na ideia revolucionária de que somos donos de nossas vontades e nossos sentimentos e acima de tudo: capazes de selecionar amores, dominar paixões, moldar carinhos e determinar afetos. 
Tempo perdido em vão.
Porque chegou um momento em que constatei o óbvio: existem sentimentos que são tão fortes, puros e verdadeiros, que embora conheçamos milhares de paixões e atrações ao longo de nossa breve existência, nada será capaz de se comparar àquilo que sentimos no tal do: único amor da vida!
Claro que a vida mesmo breve, é cheia de entrelinhas, páginas, notas de rodapé e diversas interpretações. É fato que vamos conhecer muita gente, beijar muitas bocas, sentir variados e múltiplos prazeres. Mas permaneceremos sendo reféns daquele único amor, aquela certeza maior que o mundo. Aquela palpitação que nos faria ser capazes de enfrentar dilúvios, tsunamis e furacões. Aquele nó na garganta. A falta de ar. A tontura só em sentir o perfume, o gosto, o toque. A total entrega, a incontrolável atração. A inevitável aproximação. A ausência de pudores, receios ou dúvidas. 
Mesmo que não permaneça para sempre em nossos dias, continua eternamente e de forma irreparável, com sinalizadores fluorescentes, em nosso coração. Segue ocupando aquele espaço único e intransferível. Ainda que os destinos se separem, as vidas se desentrelacem, os rumos se partam. 
Só amamos assim, só somos do outro de forma tão intensa e verdadeira uma vez na vida. O resto são fugas, formadas por almas idênticas que necessitam de apoio mútuo ao mesmo tempo. São passagens. Travessias. Não são continuação. 
Com o passar do tempo, dos dias de chuva, das noites de lua cheia... vamos percebendo que somos capazes de preencher nossa vida cotidiana com emoções banais e momentâneas, com doses das bebidas mais fortes, adrenalina, e uma gama infinita de opções fúteis e perecíveis. Mas sempre, e digo sempre, saberemos em quais locais permanecem as fissuras. Os buracos. As faltas que mais doem. São esses os pontos críticos. As "minas-terrestres". Os suicídios recorrentes. 
Resta a velha máxima: Algumas pessoas estão destinadas a se apaixonar, mas não necessariamente a ficarem juntas. Um pode seguir o resto dos dias nutrindo de forma lenta e silenciosa aquele sentimento, enquanto o outro segue por caminhos livres e desconhecidos. Afinal bem sabemos que o amor é uma estrada solitária, que trilhamos sozinhos, mesmo que em alguns trechos estejamos acompanhados: a essência da jornada é um íntimo e profundo encontro com nós mesmos (autor aleatório).  
Mas seguimos com a velha esperança de que se for nosso, um dia, leve como uma brisa, retornará, como tudo aquilo que verdadeiramente nos pertenceu.

segunda-feira, 23 de março de 2015

O verão vira outono, março vira abril, lua nova vira crescente e depois cheia e mingua e é nova de novo, o tempo passa e tudo se transforma. O que ontem era repleto de flores e vida amanhã começa a desmontar-se lentamente. As folhas caem, a paisagem muda, talvez pareça mais nebulosa, introspectiva. Precisará de um tempo para voltar a brilhar. A enfeitar os dias.
A gente também é assim... Tem fases de primavera... e períodos de inverno. Acredito que o bom da vida seja aprender que ambos são necessários. Saber ser triste de vez em quando. Admitir não estar sempre com um sorriso na cara demonstrando uma felicidade vendida em propagandas de pasta de dente, em capas de revista, no perfil do facebook. E mais importante ainda: perceber quem permanece quando nem tudo está bem, quando você não está pra balada, pra farra ou pra badalação. Quando seu humor não está dos melhores... Houve quem disse que "é fácil amar o outro na mesa de bar" É fácil ser amigo quando as coisas estão todas no seu devido lugar. Mas é difícil manter-se ao lado no meio do furacão.
Tenho passado por uma fase meio difícil... Os que estão perto sabem porque. E, infelizmente, posso contar nos dedos as pessoas que se preocuparam em me pedir como estou, oferecer ajuda, nem que seja um abraço, uma conversa, um "tudo vai ficar bem". No começo fiquei triste por ver tantas pessoas que julgava "pra sempre" ignorarem completamente o fato de eu também ser de carne e osso, de não ser  sempre a muralha... Acredito que triste não seja a palavra certa. Quem sabe, decepcionada. Mas como decepção tem muito mais a ver com a expectativa que nós atribuímos ao outro, volto a olhar para dentro de mim e então noto que essas fases são necessárias. E mais que isso: fundamentais. Houve os que foram, que passaram. Mas ah, como o destino é bom, trouxe outros que se importaram, que ajudaram a segurar a barra, com uma flor ou uma carta, com um sorriro ou um abraço, me fizeram acreditar que isso também há de passar. Há que se aprender a deixar o passado ir. Há que se manter o sonho vivo e a esperança aquecida. Há que se perder algumas folhas no outono para poder voltar a florir na primavera.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Sobre o amor...

Que eu me lembre nunca tive medo de que desse errado. A questão nunca foi essa. Não sentia receio de quebrar a cara, me decepcionar e ficar em pedaços por causa disso. Afinal, tenho consciência de que essa é uma das consequências de quem escolhe sentir, de quem aceita se entregar.
Essa sempre foi a questão, o ponto crítico. O medo sempre foi perder o controle. Perder essa mania de fazer tudo do meu jeito, mesmo que, geralmente, seja o jeito errado. Perder o privilégio de ser livre. Sim, porque eu acreditava que a liberdade só era possível quando caminhamos sós. Sabia que, quando sozinha, apenas a mim cabiam as consequências de minhas escolhas. Era eu quem passaria pelo crivo por causa dos caminhos errados, dos trajetos mal calculados...
Na realidade acho que o grande medo sempre foi admitir que sentia medo. Sempre foi expor ao outro que eu também tinha momentos de fragilidade. Que a muralha sempre imponente, sempre impenetrável, sempre inabalável, possuía sérias fissuras.
Mas hoje, quando me vejo chorando muito mais vezes do que o normal, soluçando pela dor física que às vezes parece maior que eu mesma, e do meu lado está você, enxugando cada lágrima, aguentando meu mau humor e relevando minha impaciência, vejo que não preciso ser sempre forte.
Eu nunca sonhei com um amor. Nunca fui esse tipo de garota que fantasia sentimentos, e planeja os mínimos detalhes da relação ideal. Mas acho que mesmo que eu tivesse sonhado e esperado um amor ele não seria tão completo e tão perfeito quanto o que construímos. E digo construímos porque no início, a gente sabe, não passava de uma paixão... aquele tipo de sentimento arrebatador, porém frágil. Foi só o tempo que permitiu que criássemos laços tão lindos e encantadores quanto os que temos hoje em dia.
Ouvi agora aqui na TV “desde que comecei a pegar na mão dela, nunca mais parei”. E sim... começamos pelo entrelaçar dos dedos, a moda antiga. Não foi o toque, o desejo, o sexo que nos aproximou. E sim a segurança. A certeza de ter alguém para segurar nossa mão caso a gente tropeçasse. Alguém para nos segurar no colo enquanto nossos pés calejados estão impossibilitados de caminhar. Alguém que sonhe nossos sonhos e nos proteja de nossos piores medos. Alguém que nos ame, sobretudo em nossos defeitos.
Depois de tanto tempo... De tantas idas e vindas... A única certeza que tenho na vida é de que somos muito melhores juntas. Isso a gente prova diariamente. Quando você me convence a não ir. A não abandonar o nosso nós.
Quando olho pra você vejo o quanto mudamos, o quanto nos transformamos. E te vendo eu me vejo. Minha vida sendo construída. Nossa vida sendo construída.