quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Vazio...


Lutei muito pra continuar sendo aquele buraco negro, que tudo absorvia.. uma pessoa que se preenchia, se completava, se tornava plena... tudo me encantava, me motivava. Ainda havia algo que me deixava ansiosa.. esperando, querendo, tentando. Mas, nem sempre é como Humberto Gessinger acreditou  "deve haver alguma coisa que ainda te emocione." Nem sempre há. Sei lá... eu tento, olho pra dentro de mim, me reviro do avesso, mas não consigo visualizar nada além de um imenso vazio... é como se eu tivesse me tornado um deserto, tomado de uma areia fina que quando jogada ao vento se torna nada, some, desaparece, desintegra-se no ar... é tudo movediço. Há tempos o encanto está ausente...e há ferrugem no sorriso... Ah Renato, ele entenderia... que as vezes a gente se perde no caminho, se abandona numa das curvas, desiste de ser quem se é... ser completo demais é perigoso, corre-se o risco de transbordar, de deixar nossa essência se espalhar pelo universo todo e nunca mais voltar a ser o que já foi... mas o vazio, ah esse dói mais ainda, porque ele é tão inútil, tão inseguro, tão desnecessário... mas ele também preenche, de um vácuo inóspito e insalubre, cheira a mofo, fruto do abandono, da negligência que fazemos com nossa alma, nosso coração cansado e ferido... É cruel por si só, pois ao desistirmos da gente, desistimos de todo o resto que um dia compôs os sonhos de nossa existência. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

deixa ir....


Um dia desses numa das inúmeras reuniões tão frequentes em minha vida nos últimos tempos.. me deparei com uma frase de uma profissional que admiro muito e que tem ideias de mundo extremamente parecidas com as minhas. Ao discutirmos sobre um caso de destituição ou não do poder familiar de uma bebê, ponderamos a possibilidade da mãe abrir mão do filho, quando minha colega de grupo afirmou: "Na maioria das vezes não desistimos porque não queremos mais, e sim porque amamos tanto que admitimos que não somos o suficiente pra fazer alguém feliz". 
Parei pra pensar... e me dei conta de como somos egoístas as vezes. Quando amamos, ou pensamos que amamos, porque na maioria das vezes nossos relacionamentos são tão rasos e passageiros como as tempestades de verão... quando em nome do sentimento que juramos ter ou acreditamos ter, exigimos que o outro permaneça ao nosso lado independente de todo o resto... e o mais importante.. sem nos preocuparmos se isso o faz feliz.
Claro que a luta é digna, a batalha pra manter um sentimento vivo apesar das dificuldades e obstáculos. Porém existem momentos em que a gente precisa admitir que não dá mais, cair na real, aceitar que mesmo que nosso coração transborde sentimento, essa sobra não pode completar aquilo que falta no coração do outro. Não se trata de abandonar, não significa que estamos desistindo... uma hora a gente simplesmente entende que não somos o bastante, não pr'aquela pessoa, não naquele momento... e é exatamente por isso que não vale a pena insistir... não adianta abrirmos mão de nós mesmos para manter inteira aquela mínima linha que ainda segura o relacionamento... porque sabemos, é uma linha frágil, vulnerável, que se sustenta em qualquer sentimento: pena, culpa, carinho... mas não no amor. 
Deixa livre, deixa ir.. alçar novos voos, trilhar novas estradas. Não é fácil, claro que não. Apesar do que todos pensam, desistir exige coragem.. abrir mão demanda força porque vai doer no início, vai fazer falta, vai sufocar, vai quase explodir quando você vê-lo com outra... mas vai passar.. porque quando você puder olhar com os olhos da razão, distante do sentimento que hoje você usa como único sinalizador no meio do mar turbulento que enfrenta.. você perceberá que fez o melhor por ele.. e mais ainda por ti, porque ninguém precisa de restos, nem de metades... Só o inteiro do outro pode se somar ao nosso e compor o todo primordial de nossa existência... 
Fique calma.. ele estará bem, claro que sim... ele encontrará o inteiro que a ele pertence. E você.. ah você poderá sorrir com a certeza de quem um dia tentou mas foi corajosa o suficiente pra abrir mão do que mais queria em nome exatamente do amor que sentia. Já que o amor reside em fazermos o outro feliz.. com ou sem nossa presença em sua vida. 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012


A gente se acha meio que dono das coisas né?
Veja que coisa mais patética... nos apropriamos de sentimentos, pessoas, lugares, situações e achamos que tudo é nosso, tudo nos pertence.. agimos como se tivéssemos comprado o direito de uso, reuso, de colocar no armário quando não nos interessa, e buscar quando estamos nos sentindo carentes. Mas não. Ninguém nos deu esse direito. Além de patético chega a ser contraditório. Exigimos prioridade, e por outro lado queremos continuar em nosso emaranhado de sentimentos sem priorizar nem abandonar nada, nadinha. Tudo nos parece fundamental, insubstituível. Mas cá entre nós, isso é quase egoísmo não concorda? A gente pode lembrar de momentos que nos fizeram bem, com aquela nostalgia natural de emoções/sensações que atingiram em cheio nosso coração e nos completaram.. mas isso não nos permite prender o outro em nossa redoma e obrigá-lo a viver eternamente debaixo das nossas asas, sob nosso domínio, aguentando e sendo soterrado por nossas paranoias, nossos desejos surreais e nossos sonhos utópicos e considerados irrealizáveis por aqueles que já não sabem mais sonhar. Chega uma hora em que o outro precisa alforriar-se... precisa se livrar do nosso domínio... ora, qualquer um sabe que a lei áurea foi aprovada há tempo suficiente, e até porque que escravidão não tem nada a ver com o sentimento do amor e da amizade verdadeiros. Pratique o desapego (tá bom, sei que to quase entrando na velha regra: faça o que eu digo mas não faça o que eu faço), mas tente... imagine que um dia você foi capaz de viver sem isso, e mais, era feliz com essa ausência. O ser humano é mestre em adaptar-se, talvez por isso tenhamos sido feitos para sermos de nós mesmos, somente, e de mais ninguém.