terça-feira, 26 de novembro de 2013


“A porta para a felicidade se abre por dentro”. Ouvi essa frase no início da faculdade, vinda de uma das pessoas que se tornou meu maior alicerce na vida acadêmica, sentença tão singela e ao mesmo tempo detentora de uma sabedoria tamanha que passei a usá-la como sinalizador nas diversas encruzilhadas da vida. 
Sim, uma porta imponente, com detalhes minuciosos,  construída em carvalho puro, maçanetas decoradas e fechaduras douradas.
Só que essa porta se abre por dentro. Sim, lá no coração.
Os outros podem indicar caminhos, construir chaves, desvendar senhas, mas apenas você mesmo será capaz de destravar a fechadura e abri-la. Porque você detém o poder sobre sua vida e suas escolhas. É você quem decide ir ou ficar, tentar ou desistir. É você que opta por quais estradas seguirá, e a forma como as pedras do caminho irão calejar seus pés. É você quem decide as pessoas que permanecerão na sua vida. Claro que não escolhe a intensidade dos sentimentos que nutrirá por elas, tampouco se lhe magoarão... Mas pode escolher o tanto que isso afetará seus dias e machucará seu coração.
Não espere que o outro, num gesto de cavalheirismo típico dos sonhos românticos, abra a porta para você. Não nutra esperanças de que os outros serão capazes de, algum dia, escancarar a entrada e deixar o caminho livre para que você alcance o outro lado. Só você pode fazer isso. A porta abre por dentro, e apenas você conhece seu coração, sabe das dores que ele guarda, das feridas não cicatrizadas, das alegrias vividas e os sonhos a realizar.
Abra a porta. Se ele estiver trancada arrume um jeito de construir uma chave. Se nada der certo, pule a janela mais próxima. Só não espere que a vida passe e você permaneça aí sentado, aguardando  que os outros sejam felizes por ti.

Sorria para o mundo que ele com certeza encontrará uma forma de sorrir para você.


terça-feira, 19 de novembro de 2013

Olhar e ver.


É fato comum em nossa vida: olhar sem ver.
Olhar para o mendigo na rua, e não ver a situação de miséria e privações que ele vive. Olhar para o céu, e não ver o desenho das nuvens, a escuridão da tempestade que se aproxima, o arco-íris que se formou depois da chuva. Olhar para um amigo e não ver a tristeza em seus olhos, a necessidade de um abraço apertado, de um colo disposto, um sorriso cúmplice.
Enquanto os dias correm no vai-e-vem de vidas cada vez mais cheias de vazio, mais aprendemos a fortalecer a viseira que criamos para nos exilar da realidade. Criamos máscaras que camuflam nosso real estado de espírito, escondemos as falhas e imprecisões sob camadas de maquiagem, ocultamos tudo debaixo de óculos escuros e batom vermelho. E conforme o tempo passa vamos nos esquecendo de ver nossa imagem no espelho. A face nu, sem máscaras, sem camuflagens, sem base e corretivo. Olhar e ver... perceber as rugas que se formam e que trazem consigo experiência e maturidade. Examinar as cicatrizes que são extremamente bem-vindas, porque fazem com que tenhamos certeza de que o que vivemos foi real. Os traços, os riscos, as marcas... cada um representando uma decepção, uma rasteira, uma queda, e por meio deles, o aprendizado essencial para compor a versão atualizada de nós mesmos. Olhar para o sorriso enfático em nosso rosto e ver o quanto tivemos de lutar para mantê-lo, para não permitir que murchasse diante da rotina diária: o mais do mesmo cotidiano que por muitos momentos toma conta da nossa vida. 
Contudo, o mais importante é observar os olhos. Sim, sempre disse que o que mais me encanta são os olhos. Aqueles que mesmo olhando sem ver, arquivam toda a memória de cenas que já vivenciamos, que materializam na mente as recordações mais doces que formam os capítulos de nossa existência. É neles que reside a cor de nossa esperança. E mais: o brilho fruto do amadurecimento obtido a duras penas. Ali moram lembranças e saudades... são eles que abrigam aquela lágrima que seguramos num momento de dor. Foi a partir deles que deixamos escorrer aquele pranto de emoção e alegria nas conquistas, ou de lamento e tristeza nas decepções e perdas. 
Olhar no espelho e ver o que a vida fez conosco nem sempre é atitude fácil. Requer coragem, principalmente, e coração aberto para ver o quanto tivemos que mudar para permanecer sendo quem somos. O quanto foi preciso nos refazer, recriar, reinventar em cada novo obstáculo, a cada vez que as portas se fechavam e precisávamos abrir janelas, escalar telhados, invadir chaminés... 
É difícil mas necessário, "além do que é sabido, além do que é sentido: ver além da máscara".