segunda-feira, 30 de junho de 2014

Sobre o eu e o nós...



"Talvez porque o meu mundo seja uma esfera que não cabe na órbita alheia, que se anda só" (Samara Bassi). 
Por um bom tempo achei que esse tipo de frase resumisse precisamente a complexidade das relações afetivas em que teimamos em nos envolver ao longo da vida. Acreditei veementemente que, mesmo estando cotidianamente cercados de pessoas, o caminho precisava ser trilhado só. Pensei, ingenuamente, que era impossível dividir estradas, sem abrir mão do que me era mais precioso: a liberdade. E por essa liberdade achava justo me fechar em meu casulo e permitir que os outros se aproximassem limitadamente, até onde fosse seguro, até onde não fossem capazes de me tocar verdadeiramente. 
Não que eu não me entregasse aos sentimentos de amor e amizade, mas essa entrega era invariavelmente limitada pela barreira do "não abrir mão do que me faz livre".
E nessa teimosa arrogância tola acabei perdendo, irremediavelmente, pessoas que quiseram dividir o trajeto comigo, mas foram rejeitados, expulsos.
Hoje, com os diversos calos que as pedras no caminho fizeram em mim, acabei aprendendo uma simples e absoluta verdade: ser livre é escolher a quem pertencer. 
Percebi que não há como passar a vida toda fugindo do inevitável: é necessário, sim, permitir que o outro nos acompanhe em nossa trajetória. Afinal, de que adianta ser livre para encontrar as mais lindas paisagens, se ninguém estiver ao nosso lado para apreciar a vista, tirar uma foto bonita. De que adianta o sucesso, as conquistas diárias, se não existir quem vá nos abraçar e compartilhar conosco da alegria doce que é o dizer: eu consegui. É fato que cada um trilha o seu caminho só. Precisa encarar os obstáculos e desafios que surgirem, necessita encontrar forças para criar sua personalidade, 
Entretanto, é absolutamente importante que sejamos humildes a ponto de admitir a necessidade de compartilhar. E assim, a verdadeira liberdade residirá em sermos capazes de escolher a quem pertencer. Distinguir os que estão ao nosso lado apenas para atrasar o passo, interceptar a estrada, buscar atalhos errados, ou os que são importantes guias em determinados trechos de muita incongruência, mas que se afastarão tão logo o equilíbrio seja restabelecido. E acima de tudo: aqueles que serão nossos verdadeiros companheiros nessa viagem. Aqueles que saberão acompanhar nosso ritmo, entenderão os recuos, as pausas desnecessárias, a pressa sem motivo, as curvas perigosas em alta velocidade. Os que saberão dividir cada metro da estrada de forma plena. Que sorrirão e assim expulsarão todas as nuvens e tempestades. Os verdadeiros, aos quais não nos importamos em pertencer. Que reste a máxima: não quero a liberdade se estiver sozinho para voar.