quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Saudades...


Hoje me peguei revirando algumas gavetas de meu passado. Alguns baús, tão bem lacrados, que guardam histórias, momentos e lembranças maiores que eu mesma. Entre bilhetes e fotografias encontrei uma parte de mim, um pedaço tão meu que parece blasfêmia compartilhar. Mas em momentos como esse, nos quais minha vontade é gritar ao mundo o quanto sinto falta de alguns amores e amigos... me resta escrever, e nessa página em branco traduzir aquilo que nem meu coração é capaz de entender.
Encontrei tantas recordações... tantas verdades escondidas por debaixo de quilos de pó e decepções. Tantas certezas que um dia compuseram meu todo, e que hoje não passam de meras e vagas lembranças. Desenterrei afetos e mágoas. Descobri nós e laços. E pouco a pouco fui percebendo o que passou, o que foi sendo soterrado por meio da rotina, do dia-a-dia, do cotidiano de problemas, desafios, contas a pagar, cargos a ocupar, trabalhos a fazer. E mais importante: aquilo que foi sendo apagado devido à forma catastrófica e cruel com que nos machucou. Pessoas que deixaram feridas abertas, que custam a cicatrizar. Outras que criaram fissuras impossíveis de se preencher. Tantos indo e vindo. Um vaivém desconexo, confuso e avassalador. 
Descobri nos armários mais escondidos de minha alma, aquelas prateleiras mágicas montadas em nosso coração. Nas quais, indiscretamente, fomos criando prioridades, trejeitos e insubstituições. Fomos nos moldando à vida que julgamos ter. E sobremaneira, fomos construindo aquilo que acreditamos ser nossa essência, até que o mundo não nos chacoalhasse e fizesse cair por terra todas as verdades.
Sim, sei que tudo isso parece um amontoado de verbos, substantivos, e divagações. Mera gramática, simples literatura, efêmera redação. Nada além de um texto barato, que será publicado em um local qualquer e que nada representará diante da complexidade da vida. Mas ainda assim, era necessário que aqui eu registrasse: ah como me fazem falta. 
Os amores e amigos. As horas de alucinação. As rodas de conversa, bebida e violão. Os e-mails trocados. Os abraços apertados. Os momentos divididos. Os porres curados. As partidas de truco vencidas (ou perdidas). As músicas ouvidas em sintonia. As danças desensaiadas. As lágrimas enxugadas. Os colos dispostos. As semelhanças identificadas. As controvérsias escrachadas. A irritação proposital. As brigas irreconciliáveis (que não duravam mais que dez minutos). A vida compartilhada. 
Permanecem no livro que forma minha existência. Compõe capítulo especial, repleto de metáforas, hipérboles, sinestesias, antíteses e eufemismos. Tão complexo e ao mesmo tempo: essencial para todo o sempre!