quinta-feira, 18 de setembro de 2014



"Um rei me disse que quem deixa ir tem pra sempre." 

A vida é feita de ciclos. Essa frase parece tão clichê, que muitos deixam de perceber a tamanha verdade que ela imprime. Desde sempre e para sempre vivemos iniciando e encerrando ciclos. Da primavera ao outono, de janeiro a fevereiro, de segunda a domingo. Num vai e vem de dias, horas e momentos que podem ser vividos de forma a serem desperdiçados ou eternizados, dependendo da importância que você dá a eles. Dependendo de quem você escolhe para compartilhá-los com você.
Sim, porque é fato que em cada ciclo pessoas diferentes chegarão, a medida que outras partem. Você é quem deve escolher se gastará seu tempo lamentando os que foram, ou aproveitando as trocas que os novos querem lhe proporcionar.
Hoje acordei e a chuva me fez parar para olhar pela janela. Há tanto tempo eu não fazia isso. Percebi que a paisagem mudou consideravelmente. Talvez porque meu olhar também tenha mudado. Por instinto, reflexo das tantas vezes que fiz isso em dias de chuva de minha adolescência, resolvi abrir velhas caixas e gavetas. Ali encontrei partes de mim espalhadas entre fotos, cartas, desenhos, bilhetes, embrulhos de presente e embalagens de bombom. Tantas lembranças que me constituem. Convites de festas de 15 anos já amarelados, formaturas de ensino médio, formaturas de ensino superior, chás de panela, casamentos, chás de fralda... E percebi que, como diria HG "o tempo passou, claro que passaria". Quantos ciclos se encerraram. Mas quantos eu efetivamente deixei para trás? Quantas pessoas foram se perdendo nas tantas esquinas, nas voltas que o mundo dá. Mas quantas delas eu mantive aqui dentro na ingênua esperança de um dia recuperar a exatidão do sentimento que compartilhamos?
Juntei algumas coisas e joguei no lixo. Não por não compreender, ou tampouco, não respeitar a importância que cada um desses objetos e respectivos sentimentos representam na minha historia de vida. São partes de um quebra-cabeça que se torna incompleto sem as peças do ontem. No entanto, percebo que para que elas existam não é necessário serem vividas nostalgicamente no hoje. Isso faz mal, nos mantém presos ao que pertece ao passado, e que, com certeza, possui alguma razão para não fazer parte do presente. É necessário encerrar ciclos. Mas encerrar de verdade. Não apenas guardar dentro de uma gaveta e fingir que passou. É necessário mexer na ferida, ressuscitar velhos fantasmas, enfretar antigos dilemas. Aí sim será possível se livrar daqueles frascos de perfume que você guarda para lembrar de uma antiga paixão. Aquela roupa que já não serve, mas que você insiste em acreditar que um dia ainda usará. Quem deixa ir, tem para sempre. 
O quebra-cabeça ficará completo cada vez que lembrarmos com carinho dos bons momentos que tivemos, e para isso não precisamos de antigos bilhetes e declarações. Não precisamos deixá-los acumulando o pó da mágoa ou o mofo da decepção. Quando lembrados, não fisicamente, carregarão apenas aquilo que foi bom. 
A alma trata de fazer eterno tudo aquilo que se amou. 

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